13 de julho: ciclone avança pelo sul do país. Intenso, informam os meteorologistas. Litoral catarinense em risco. E não dá outra: vento forte, - rajadas intermitentes -, 100 Km por hora ou mais. A surpresa: à luz do dia. Sol pleno. Nada de nuvens. Céu de brigadeiro.
Estragos de monta: galpões destelhados, tratores e equipamentos abalroados. E nas lavouras bananeiras carregadas de cachos simplesmente vieram abaixo. Algumas plantas resistiram, no entanto; mas não sem injúrias: folhas arrancadas ou rendilhadas. Pseudocaules ao léu. Esqueléticas. E as pupunheiras então, retorcidas ou arrancadas, bagaços
expostos ao relento.
Cenário de guerra lembra Cláudio Korn. Pessoas mais velhas opinam: fenômeno igual nunca foi presenciado dantes. Ora, ventar o dia inteiro, que é isso?! Noutros tempos o vento soprava no início da noite e ia até o amanhecer; lufadas amenas, no entanto. Folharada rolando. Era o tal rapa-canela, palavras de Mauro de Souza, de Massaranduba. Vinha chuva, depois o vento, e com ele o frio. E quando tudo se acalmava, a geada. Era assim, e não como agora, dando voltas feito cavalo redomão relinchando.
Abordagens científicas sinalizam recrudescimentos destes fenômenos nos próximos anos: precipitações mais intensas, torrentes, cabeças d’água, e por aí afora. E vendavais, incluindo o temido ciclone. Em outras épocas fenômenos semelhantes eram pouco perceptíveis, embora presentes. Lá saber os estragos. Apenas narrativas. Memórias. No entanto, em face das crescentes ocupações antrópicas: urbanização, sistema viário, instalações, ampliação de lavouras, qualquer ocorrência desta natureza, hoje, tem repercussão imediata. Além de colocar em risco a vida - os prejuízos - na maioria das vezes nada modestos -, ensejam reflexões acaloradas.
Obviamente, intempérie não escala classe social, embora inundações e deslizamentos, geralmente, atinjam populações mais vulneráveis.
No mundo todo - em maior ou menor escala -, fenômenos naturais como inundações, nevascas, furações e tornados, periodicamente assombram. Daí, gradativamente, meios de monitorá-las veem sendo estruturados: satélites, rede de estações meteorológicas, radares, marégrafos, entre outros. E, anemómetros, aferidores da velocidades dos
ventos.
A defesa civil – ampliada -, profissionalizou-se; a polícia militar, o corpo de bombeiros e o próprio exército também dispõem de capacidade estratégica para pronto atendimento.
Neste sentido – vem-me à memória a intempérie de 1999 no distrito de Pirabeiraba. Precipitação elevada provocou deslizamento nas encostas da serra do Mar e, ato contínuo, barramento, que por sua vez rompendo destruiu pontes e galerias, isolando comunidades rurais. De imediato o prefeito Luiz Henrique aciona o batalhão do exército em Porto União. Ponte metálica é disponibilizada e instalada na travessia do rio Cubatão na Estrada do Pico. Providência rápida e eficiente. Inúmeras operações semelhantes ocorreram. Há também helicópteros e embarcações disponíveis, mais que providenciais, obviamente.
Mas, certamente, entre todos os fenômenos naturais, os vendavais denotam uma dimensão mais aguda, especialmente os ciclones. Pouco resta a fazer, senão proteger-se de imediato.
Em face deste contexto, há que se estudar mais amiúde a origem deles, os fatores agravantes. E, sobretudo a engenharia há que buscar alternativas mais eficientes, principalmente no que tange a implantação de barreiras como quebra-ventos e quanto ao cálculo adequado das instalações – observar a devida margem de segurança - incluindo também as placas de marketing que, com frequência, transformam-se em armadilhas. Perigosas armadilhas.
O que fazer nesta hora? Eis a pergunta que não quer se calar. Leandro do Assentamento Conquista no Litoral, pensativo, pondera:
- Estamos estudando com os assentados se vale a pena recuperar os abrigos. Prejuízo de mais de trezentos mil reais. Tudo à duras penas fora reconstruído em 2020, ano do fatídico ciclone bomba.
E três anos depois constatar outra hecatombe - ruínas expostas – provoca apreensão. O agravante: a perda de produção de hortaliças que significa perda de receita E perda de clientela. Superar tal cenário, um senhor
desafio.
Parodiando Euclides da Cunha: Antes de tudo o sertanejo é um forte”. Acrescentaria: e nosso agricultor também; antes de tudo é um forte. Põe forte nisso.
Solidariedade e apoio nessa hora é tudo, pondera Marcelino Hurmus, extensionista rural da Epagri em Garuva.
Lembramos ao Leandro de que o capital físico importa, sim, e muito; mas o conhecimento que o grupo detém - saber produzir e bem -, este é o bem de maior valor. Sempre fez e sempre fará toda a diferença, especialmente nesses momentos.
Coragem irmãos do campo! coragem nunca lhes faltou, nem faltará, certamente. Faça chuva ou faça sol ou faça vento, produzir comida, é das vocações das mais nobres, embora os percalços enfrentados.
Vocação de herói, embora pouco reconhecida. Urge, portanto, valorizá-los, apoiando-os nestes momentos nada animadores.
Joinville, 14 de julho de 2023
Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo
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